sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A culpa é minha!



Sempre há uma tendência de culpar alguém de fora do ambiente ou de outra unidade por falhas ou não alcance de objetivos e metas. A culpa é de todos e até do sistema, menos nossa.
Um empresário, meu conhecido, aplicou em sua empresa algo inusitado e criativo (como, aliás, foram outras práticas adotadas por ele): O Dia do Culpado. Neste dia em particular era escolhido um dos funcionários da empresa que seria culpado por tudo que acontecesse de errado, qualquer que fosse a circunstância (o empresário falou, em tom de brincadeira, que se furasse um pneu do carro de alguém da empresa na rua, aquele funcionário escolhido seria culpado). Assim, durante um mês, a cada dia, um funcionário foi o “culpado” por tudo de errado que acontecia. Isto mostrou para toda a equipe como é ruim colocar a culpa nos outros.


A ação deste empresário pode parecer cômica, ou trágica, demais, mas o fato é que, em muitas empresas, se as coisas dão errado, a culpa vai sendo jogada até alcançar alguém que não tem mais para quem jogar a culpa. Obviamente que um erro tem sempre um “responsável maior”, mas não exclusivo.

Culpar os outros sobre as situações ocorridas dentro da empresa tem diversas causas:
o medo da punição, fomentado pelo poder do chefe (o poder de coerção);
- falhas no processo de motivação, levando a equipe à falta de comprometimento;
a má distribuição de atividades, sobrecarregando alguns ou entregando atividades a quem não está devidamente preparado para realizá-las;
não cobrar resultados de quem realmente fica responsável pela atividade;
não assumir efetivamente responsabilidade por atividades e seus eventuais resultados negativos;

Diante disto, vale lembrar dois aspectos que são muito importantes para que culpar os outros seja uma prática cada vez menor nas organizações.

Primeiro: toda a equipe deve entender que a empresa é um sistema. Todos os seus processos, setores etc. são interligados. Isto é o pensamento sistêmico (a quinta disciplina de Peter Senge - 1990) indicando “que nossos problemas e suas causas fazem parte de um único sistema pelo qual somos responsáveis.” (Araújo, 2006). Nossas ações vão além do cargo ocupado. Por isto conhecer a empresa, observando como as atividades de cada um afetam os processos dos outros é de suma importância. Senge também enunciou cinco principais deficiências do processo de aprendizagem nas organizações e dentre elas está a seguinte: “O inimigo está lá fora: a culpa e sempre dos outros”. Senge mostra que o argumento do pensamento sistêmico derruba esta deficiência. Em outras palavras: culpar outras pessoas ou sistemas não ajuda em nada a capacidade da empresa aprender, e conseqüentemente, desenvolver.

Em segundo lugar, trabalhar firme buscando cultivar o trabalho em equipe, principalmente reforçado por um outro pensamente administrativo moderno: empowerment. Este conceito se firma na proposição de conceder poder ou autonomia às pessoas para que elas mesmas possam diagnosticar, analisar e propor soluções para os problemas da empresa. Araújo (2006) sintetiza os três pilares sobre os quais está apoiado o conceito, e que por si só já nos remetem a uma prática diferenciada, distante de “culpar o outro”:
1. visão de futuro: desejar, imaginar o amanhã ideal e lutar por isto;
2. assumir o poder: acreditar que todos podem contribuir para a melhoria e podem ajudar na construção deste futuro;
3. apropriar-se: no sentido de sentir-se responsável por tudo que diga respeito às metas traçadas

Em aspectos éticos, não esquecer que, se formos questionados sobre uma atividade, temos que verificar qual a nossa participação naquela situação e assumir nossa parte, seja qual for. Agindo assim, as conseqüências serão bem mais amenas do que simplesmente “tirar o corpo fora”.

Quando em posição de liderança, é muito importante verificar exatamente de quem é a responsabilidade pela execução daquela tarefa. Desta forma a avaliação de desempenho da equipe não será limitada ou unilateral, e cada um poderá entender sua própria contribuição no processo, assumindo sua responsabilidade.

Se assumir nossas responsabilidades for uma prática constante, em breve teremos construído uma imagem bem positiva a nosso respeito, e aquela oportunidade de assumir um projeto ou novas atividades chegará. Quem vai convocar alguém que não assume responsabilidades?

Então, a culpa é minha!