sábado, 27 de novembro de 2010

Antes que chegue o Natal

Como o mês de novembro está chegando ao fim, a maioria das empresas já está pensando no Natal. Boa parte delas já encarregou seu RH de procurar um local para a "festa de confraternização" e de cotar cestas natalinas e brinquedos para serem distribuídos aos filhos dos funcionários, no final do ano.
Eis a pergunta que não quer calar: se essas preocupações com o Natal refletem, de fato, um desejo sincero da empresa de manifestar reconhecimento aos seus colaboradores e de premiá-los pela dedicação e competências, por que não se pensou nisso em março, junho ou setembro?
Por que esperar uma data específica para promover alegria na empresa?
Isso me faz lembrar das outras datas comemorativas, na esfera pessoal: Dia dos Pais, das Mães, dos Namorados, da Criança, aniversário, casamento e por aí vai. Algumas pessoas passam o ano inteiro, desculpem a expressão, "quebrando o pau" com o marido, a mulher, os filhos, os pais e, de repente, não mais que de repente, magicamente, chega um determinado dia do calendário e...Oh! Beijos, abraços, presentes, doces e salgados...No dia seguinte, o "pau volta a quebrar..." Faz sentido?
A mesma dinâmica se aplica a certas empresas. Só no discurso de fim-de-ano os funcionários são vistos como "nosso maior patrimônio". Fora desse dia, em grande parte das empresas, o que se tem visto é frieza, desrespeito e arrogância. Não é por acaso que 70% dos trabalhadores brasileiros sofrem de estresse. Nem é por acaso que aumentam a cada dia as queixas contra o assédio moral. Faz sentido?
Aqui vou eu com mais uma pérola de obviedade: a manifestação de afeto, reconhecimento e respeito que se tem pelas pessoas não deve ter dia e hora marcados. O coração não usa calendário, muito menos relógio. Os sentimentos são atemporais. Essas demonstrações podem e devem ser feitas em qualquer estação do ano, pela manhã, tarde ou noite, em qualquer período do horário de trabalho. Inclusive, no lucro ou no prejuízo - até porque alguns prejuízos resultam justamente da falta de reconhecimento e, por conseqüência, de motivação.
Graças a Deus conheço um monte de empresas "festeiras" durante todo o ano. A maior parte delas está no azul e consta das "melhores para se trabalhar".
Obviamente não quero generalizar. O alvo deste artigo são alguns empresários que ainda não perceberam que, com relação ao clima organizacional, os tempos são outros; não notaram que o modelo de gestão de pessoas que conduz ao sucesso já está aí, à disposição de quem tiver sensibilidade para adotá-lo. Não perceberam que há música no ar e que se pode ser feliz no trabalho.
Depois que lancei meu "A Terceira Inteligência" e estou palestrando a respeito, muitos - mas MUITOS mesmo - profissionais me procuram ou me escrevem perguntando:
- Legal! Mas como faço para convencer meu chefe a implantar isso na minha empresa?
Amigos, que pergunta difícil...É o mesmo que perguntar: como faço para convencer alguém a se preocupar com o próximo? A encontrar prazer em fazer alguém feliz? Como faço para instalar o Bem dentro de algumas pessoas?
Isso leva tempo. Salvo honrosas exceções, não há uma varinha mágica que dê a algumas pessoas a imediata consciência de que faz muito bem para as empresas tratar bem seus colaboradores. "A estrada de mil léguas começa por um passo". Há que se ter paciência, fazer tentativas e esperar os resultados. Mas, sobretudo, é preciso ser chato. E às vezes poeta, às vezes sonhador, às vezes louco, às vezes ridículo, às vezes utópico - mas gloriosamente chato. Chato pela insistência, pela perseverança, pela teimosia e principalmente pela absurda crença de que as pessoas e as coisas sempre podem mudar para melhor.
Motiva-me saber que não estou só. Percebo a cada dia e cada vez mais, que está se formando, espontaneamente, um crescente, silencioso e pacífico grupo de "revolucionários" - de ousados presidentes de empresas a valorosos "peões" de fábrica.
Para esses "revolucionários" - cuja única arma é otimismo e a única voz é a do coração - o Natal pode ser hoje, amanhã ou qualquer dia. O "parabéns!", o "muito obrigado" pode ser a qualquer momento - agora mesmo, inclusive.
Esses "revolucionários", que vão derrubar os ultrapassados modelos de gestão de pessoas, têm em comum a inquebrantável convicção de que há uma ação possível a todo e qualquer profissional otimista e bem intencionado: a ação de fazer o bem, de manifestar afeto e reconhecimento, de levar alegria a quem precisa dela - dentro ou fora do trabalho.

E, de preferência, antes que chegue o Natal.