terça-feira, 3 de julho de 2012

Pode nos dar uma licencinha, chefe?


Robert Sutton é um observador do comportamento das pessoas no trabalho e revela os atributos que fazem de alguém um bom ou mau chefe, apontando evidências. Ele será um dos palestrantes do Fórum HSM de Gestão e Liderança, que acontecerá nos dias 5 e 6 de abril.

“Às vezes, a melhor gerência é ‘gerência nenhuma’”, afirma Robert (Bob) Sutton, autor de Bom chefe, mau chefe: como ser o melhor... e aprender com o que há de pior (ed. Bookman). O professor da Stanford University é realmente capaz de traduzir a complexidade das relações no ambiente de trabalho em poucas, boas, simples e bem-humoradas palavras.

A ideia de “gerência nenhuma” está dentro de seu conceito de “gestão por saída da frente”. Os funcionários sabem que o chefe, por mais bem intencionado e competente que seja, pode atrapalhar. “À vezes, a melhor coisa que um líder pode fazer é sair de cena fisicamente, de modo que sua mera presença não sufoque o pensamento e as sugestões de um grupo de pessoas que, à exceção do chefe, têm status similar”, explica o autor em seu blog, Work Matters. Quem já não participou de uma reunião em que a voz das pessoas era por elas mesmas sufocada diante da presença de alguém com mais poder? Resultado: questões não são aprofundadas e a probabilidade de não se chegar à melhor decisão aumenta.

O blog contém dicas práticas e verdades acachapantes, que importam a chefes bons e não tão bons. E a aspirantes a líder. Seja na web ou em seus livros, o Ph.D em psicologia organizacional deixa claras as coisas em que acredita, ainda que pareçam estranhas.

Sutton é um caçador de evidências e nelas baseia seus conselhos sobre gestão. Um de seus motes é: “A indiferença é tão importante quanto a paixão”. A evidência: quando nos exigem ser do tipo “multitarefa”, não é possível investir tanta paixão em tudo que fazemos, pois isso seria muito estressante e nos levaria a fazer as coisas com baixa qualidade. Ser indiferente a algumas, porém, decorre de um exercício de seleção daquilo que, de fato, é mais importante. Isso nos ajuda a seguir adiante. Mesmo que contradiga nossas convicções, quando se coloca a ideia nesses termos, ela realmente parece fazer sentido.

O chefe importa, e o chefão ainda mais

Sim, o chefe faz toda a diferença. Em Bom chefe, mau chefe, Sutton apresenta várias evidências objetivas disso, entre elas um estudo sueco que acompanhou mais de três mil homens por dez anos e mostrou que os que tinham os melhores chefes tinham, no período de quatro anos, 39% menos risco de ataques cardíacos do que os que trabalhavam com chefes ruins. Os melhores chefes, segundo a pesquisa, eram aqueles que, entre outras coisas, mostravam consideração, especificavam metas com clareza e implementavam mudanças.

Os chefes fazem muita diferença quando exercem influência direta e pessoal sobre as pessoas, como nos times esportivos e nas pequenas empresas ou em grupos de projetos. Um estudo realizado por Robert Keller, professor da University of Houston, por exemplo, levantou que os melhores chefes lideravam equipes que criavam os produtos mais lucrativos e conseguiam lançá-los mais rapidamente. Diversas pesquisas conduzidas pela Gallup mostram que os gestores superam as empresas em relevância, no que tange ao comprometimento e ao desempenho das pessoas.

“O líder de uma organização importa mais do que os outros chefes”, afirma Sutton. “Ele dá o tom do comportamento de seus subordinados diretos, o que reverbera por todo o sistema.” Simples assim: os diretores tendem a copiar o estilo do presidente, os gerentes mimetizam os diretores e por aí vamos. Se a pessoa do topo estiver equivocada quanto ao que significa ser bom líder, a empresa inteira pode se contaminar.

Verdadeiro ou falso

Pensando em seu chefe, você pode clicar em “verdadeiro” ou “falso” diante de vinte afirmações e descobrir se ele é um imbecil (palavra usada pelo autor, que, inclusive, compõe o título de um de seus livros, The no asshole rule). Conheça as vinte características que, reunidas (se é que é possível), caracterizam um chefe tão ruim que, segundo Sutton, convém que você peça demissão:

1. É tão autoritário e pressiona tanto que nos deixa loucos.
2. Não sabe quando ficar quieto ou nos deixar sozinhos, é um típico microgerente.
3. Faz muitas pequenas coisas que nos irritam.
4. Faz-nos perder tempo com interrupções e distrações tolas.
5. Não nos dá apoio, não nos defende, nem nos protege da idiotice que vem de cima para baixo na empresa.
6. Não confia em sua própria capacidade de liderar.
7. Deixa-me sem energia até depois de uma conversa breve.
8. É um crônico ladrão de crédito (não dá os créditos à equipe).
9. É rápido para culpar outros por erros que ele mesmo cometeu.
10. Apega-se a planos e opiniões, apesar de evidências de que está totalmente equivocado.
11. Não ouve.
12. É cego para suas próprias fraquezas.
13. Contrata, recompensa e promove individualistas, egoístas e péssimos colegas de trabalho.
14. Adia a tomada e a implementação de decisões difíceis.
15. Não tem coragem para dar feedback negativo ou punir quando necessário.
16. Fala muito e não age.
17. Não segue o conselho de A.G. Lafley: “Torne tudo simples como a Vila Sésamo”.
18. É muito ruim em nos confortar e acalmar durante crises.
19. Trata-nos como lixo.
20. Dedica pouco esforço a compreender como é trabalhar para ele.
Em tempo: antes de projetar todo o mal no seu chefe, faça uma autoanálise. Use a lista acima para refletir a respeito de si mesmo como líder.

Por Alexandra Sousa, administradora de empresas e diretora da Palavra-Mestra.
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