quinta-feira, 17 de novembro de 2011

É justo premiar competência com mais trabalho?


Paulo Roberto Silva (nome fictício) é funcionário dedicado, rápido na entrega de resultados, e em tudo o que faz imprime qualidade, agilidade e inovação. É o profissional com maior destaque entre os Analistas de Marketing da empresa onde trabalha. Empresa esta de renome internacional, reconhecida no mercado pela qualidade de seus produtos, mas que está buscando atualmente otimizar processos e controle orçamentário. Até segunda ordem as promoções e os aumentos salariais estão suspensos. Acontece que na equipe de Paulo existem mais cinco Analistas de Marketing com salários que variam em até 30% acima ou abaixo de sua remuneração. Quando o assunto é performance e entrega, contudo, a liderança é unânime em apontar Paulo como funcionário destaque.
Nos últimos meses Paulo foi premiado com cinco novos projetos, sendo que dois deles são extremamente estratégicos para a empresa e os demais são projetos que têm certa complexidade. Paulo hoje gerencia nove projetos, enquanto seus colegas trabalham em média com no máximo cinco projetos consecutivos. Para dar conta do recado, Paulo tem estendido sua jornada, trabalhando até 12 horas diárias e ainda levando trabalho para casa nos finais de semana. Alguns funcionários de outros departamentos comentam que Paulo já não é mais o mesmo, já não brinca com todos na hora do cafezinho, não responde os e-mails com a rapidez costumeira e a sua marca que sempre foi qualidade e agilidade está estremecida. Sua esposa também reclama que ele não dá atenção para ela, que vive tenso e só fala em trabalho.
Este cenário lhe é familiar? Cuidado, você pode ter sido o vencedor da campanha "trabalhe bem e ganhe excesso de trabalho".
Situações como a de Paulo são muito comuns no ambiente coorporativo e profissionais brilhantes têm se afastado das empresas por sérios problemas de saúde física e emocional, que se iniciaram com a sobrecarga de atividades. Portanto, cabe à liderança estar atenta à distribuição de tarefas, pois é tendência natural delegar trabalhos mais complexos e estratégicos para os melhores talentos. No entanto, ninguém consegue por muito tempo manter sua performance e motivação com sobrecarga de trabalho e sem nenhum benefício ou ajuda adicional.
Nenhum ser humano é igual ao outro, cada qual com sua singularidade, talentos e deficiências. É muito mais eficiente trabalhar com aquilo que temos de melhor, no entanto, não se pode esquecer-se de desenvolver uma equipe onde todos possam ser avaliados e o trabalho dividido de tal forma que não haja grandes discrepâncias entre profissionais de um mesmo cargo. O líder tem que ter um olhar atento para saber qual é o limite de cada um e possibilitar uma divisão justa de tarefas e funções, premiando os profissionais "destaques" de forma adequada.
Cabe aos profissionais de Recursos Humanos promoverem e disseminarem políticas e estratégias para retenção dos melhores talentos, bem como possibilitar que cada indivíduo tenha condições de crescimento e desenvolvimento de acordo com suas motivações e competências, auxiliando muitas vezes as lideranças a "premiar" o bom resultado com ações que promovam antes de tudo saúde, satisfação e benefício pessoal.